09 setembro 2007

POLACO OU POLONÊS?


Uso dos adjetivos para se referir às coisas e pessoas da Polônia ainda causa polêmica

Rigorosamente trata-se de uma falsa polêmica. Pois tanto os dicionários quanto os lingüistas afirmam que polaco e polonês são adjetivos sinônimos. Acontece que para alguns descendentes a palavra soa pejorativa e até mesmo ofensiva, mas para outros isto é simples preconceito sem importância“É uma questão de uso, as palavras não podem ser descontextualizadas. Elas têm vida e evoluem como as pessoas”, diz o lingüista e professor de Língua e Literatura Portuguesa, Leopoldo Scherner. “Tanto que em Portugal é mais comum usar o termo polaco, tanto para a língua como para a pessoa”.
Para o professor o que existe é um preconceito. “Principalmente no Paraná, o polaco ganhou um tom pejorativo”. Esta também é a opinião do crítico de literatura Wilson Martins. “Tanto uma como outra são legítimas”, diz.

Saga dos Polacos

Mas é o livro Saga dos Polacos, do jornalista Ulisses Iarochinski, que novamente colocou a questão em discussão. “No livro, explico que o mais correto seria polaco ao invés de polonês. Isto porque a tradução de polak,, que designa o habitante da Polônia, é polaco em todas as línguas latinas, com exceção do francês”, explica Ulisses. “Polonês é um galicismo, um afrancesamento que revela diversos preconceitos com os imigrantes polacos, polônicos”.
No livro ele tenta explicar a origem do preconceito, lembrando dos imigrantes que chegaram no final do século dezenove e início do vinte, ao Brasil. “Foi o colono nativo, tão ou mais ignorante que o imigrante, que passou a tratar o polaco de forma ofensiva e pejorativa. E polaco passou a ser uma forma de chamar o imigrante de burro, ignorante, conta.
“Isso se agravou porque as comunidades de polacos viviam afastadas dos centros urbanos, como em Curitiba, e por serem, na maioria, lavradores acabavam convivendo pouco com os outros imigrantes e os nativos. Diz-se que por mais de 30 anos este contato foi pouco freqüente”.
Outro que defende a mesma tese e acha que não há nenhum problema em usar a expressão polaco é o ex Presidente da União Juventus, a maior e mais importante sociedade de polacos de Curitiba, Anísio Oleksy. “Falar polonês é influência da cultura francesa, de uma elite preconceituosa, de uma szlachta (nobreza, em polaco), que achava polaco feio e polonês mais chique, mais bonito, pois vem de polonaise, informa Oleksy. “Não me ofendo que me chamem de polaco, me orgulho

“Não há diferença entre polaco e polonês. Usa-se mais polonês, mas não há motivos para se ofender com polaco”, diz o lingüista Geraldo Mattos, presidente da Academia Internacional de Esperanto. “Não podemos nos prender aos preconceitos”, completa.

Texto extraído da Gazeta do Povo de 07 de maio de 2000 (Carlão Kaspchak)

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